sábado, 15 de janeiro de 2011

moda do brasil

A moda no Brasil

 Durante séculos o Brasil viveu à margem da indústria da moda internacional. Com uma indústria têxtil que movimenta cerca de US$ 33 bilhões anualmente, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil, o que corresponde a 3% do PIB, o Brasil como produtor de moda era visto apenas como fonte de exotismo e trajes folclóricos. Como consumidor, reproduzia os padrões estéticos de consumo europeus ou norte-americanos ao longo da história. Assim, o país não tem uma tradição de ser lançador nem produtor de moda. Segundo a consultora de moda Glória Kalil, o que existe no país é regionalismo, trajes típicos como o da baiana e de gaúcho, uma moda adaptada ao Brasil, com características adaptadas ao clima e ao gosto particular do brasileiro.



crédito: Marcia Feitosa/FOTOCOM.NET
­No início do século 21, o panorama mudou um pouco. Para começar, houve a projeção internacional das top models brasileiras, como Gisele Bündchen, Caroline Ribeiro e Fernanda Tavares. Ao mesmo tempo, especialistas do mundo da moda da Europa e Estados Unidos descobriram que havia no Brasil uma inovadora produção de moda com qualidade e profissionalismo.


Essa projeção inicial da moda brasileira contemporânea no cenário internacional foi fruto também de uma série de ações de incentivo ao surgimento de novos estilistas no país. Em São Paulo, que tornou-se o principal pólo produtor e irradiador de uma moda contemporânea brasileira, eventos periódicos para mostrar as coleções das principais marcas e estilistas desde os anos 90 e o surgimento de cursos superiores de moda e estilismo contribuíram para essa mudança no cenário.
Apesar dos avanços, ainda há muito a ser conquistado pela moda brasileira. Segundo Francine Pairon, diretora do Instituto Francês da Moda, falta mais cores e alguma coisa mais audaciosa e menos global na moda brasileira. Para ela, os estilistas brasileiros deveriam primeiro imprimir uma personalidade mais brasileira e depois pensar em como conquistar o mercado internacional.
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crédito: Márcio Rodrigues/FOTOCOM.NET
 No mercado interno, a qualidade de algumas grifes nacionais tem as colocado em pé de igualdade de competição com as mais famosas marcas internacionais. O mercado de jeans para as classes média e alta é um exemplo disso. Marcas nacionais como Forum, Zoomp, M. Officer e Ellus, por exemplo, enfrentam grifes internacionais como Levi’s, Guess e Calvin Klein. A adoção por grandes redes de magazines de peças baseadas em modelos de jovens renomados estilistas nacionais, produzidas em larga escala e vendidas a preços acessíveis, ajuda também a consolidar um estilo brasileiro contemporâneo na moda usada no país.
Entre esses principais estilistas nacionais estão Alexandre Herchcovitch, Fause Haten, Marcelo Sommer, Lino Villaventura, Tufi Duek, Reinaldo Lourenço, Mario Queiroz, Glória Coelho e Ronaldo Fraga.
Antes deles, o grande nome da moda nacional foi o estilista paraense Denner Pamplona de Abreu que durante os anos 60 e 70 foi o precursor da Alta Costura no país. Para Denner, a moda brasileira deveria ser tropical, com tecidos leves e estamparias mais vivas. O estilista abriu as portas para o surgimento de outros nomes da Alta Costura nacional nas décadas seguintes como Clodovil Hernandez, Guilherme Guimarães, Markito e Ney Galvão, entre outros.

A moda além do vestuário

 Seja no Brasil ou no mundo, nas últimas décadas a indústria da moda extrapolou os limites da área têxtil e do vestuário. Desde o surgimento do estilo prêt-à-porter nos anos 50, a moda passou a influenciar outras esferas como o design e a indústria dos cosméticos e perfumaria e se fundiu a muitas áreas da indústria do entretenimento.
Numa era dominada pela sedução exercida pelos meios de comunicação de massa, através da publicidade, do culto às celebridades, da divulgação frenética de “novidades” de toda espécie - de tênis a gêneros musicais -, estar na moda não é mais simplesmente ter acesso e usar a vestimenta adequada a um estilo e a um grupo social. A moda ganhou uma nova amplitude e passou a comandar os gostos em outros campos.
Também nas últimas décadas, tornou-se mais intrínseca a relação entre o estilo de vestir e as opções de vida. A sociedade que emerge após a Segunda Guerra Mundial é mais diversificada e democrática. Assim, a juventude rebelde das décadas de 60 e 70 criou estilos de viver, vestir e de produzir arte que viraram modas específicas como o hippie, o psicodélico, o mod ou o punk (aliás, este criado pela estilista inglesa Vivienne Westwood). Nos anos 80, os jovens executivos do mercado financeiro criaram um estilo de vestir e viver que ficou conhecido como yuppie (acrônimo em inglês para young urban professionals).
Sobre esse fenômeno que a moda provocou ao longo de sua história, o filósofo Gilles Lipovetsky afirma que a moda não é nem anjo nem fera. Para ele, no império da moda há mais estimulações de todos os gêneros, mas mais inquietude de viver; há mais autonomia privada, mas mais crises íntimas. Lipovetsky afirma que tal é a grandeza da moda, que remete sempre mais o indivíduo para si mesmo, e tal é a miséria dela, que nos torna cada vez mais problemáticos para nós mesmos e para os outros.

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